domingo, 10 de janeiro de 2010

15) O PAPEL DO JOGO NA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO DA CRIANÇA

Há uma cisão entre o lúdico e o pedagógico. Entre o que é brincadeira e o que é sério. Isto do ponto de vista de um adulto, pois para a criança brincar é uma atividade séria na medida em que mobiliza suas possibilidades intelectuais e afetivas com um fim determinado. No decorrer do desenvolvimento infantiu o jogo apresenta uma evolução, entretanto não há seqüência rígida entre as diferentes modalidades. Os jogos se classificam em: Funcionais, de ficção, de aquisição e de fabricação, de acordo com as atividades e conteúdos desenvolvidos. Cada um possui uma função determinada para com a criança, e todos contribuem para a percepção de si própria para a compreensão de sua inserção no grupo, das relações com os objetos, com as pessoas e com seu meio cultural. Podemos de certa maneira dizer que as atividades lúdicas são para a criança uma ferramenta de auto-conhecimento, já que estando ela em constante desenvolvimento é viável dizemos que quanto mais ela se modifica menos ela se conhece.

Jogos funcionais: São os que o bebê executa com seu corpo, balançando os braçoss, aproximando objetos da boca etc...

Jogos de Ficção: É o faz-de-conta, a criança neste caso transforma um flutuador de natação em um foguete, ou uma prancha em uma base espacial. Ou então a própria criança representa um papel específico como um viajante intergaláctico.

Jogos de aquisição: São aqueles que a criança pára no intuito de olhar atentamente à uma situação, canção, objeto ou algo que se esteja ensinando à ela. Para quem vê de fora a criança parece não estar participando, entretanto ela está em um processo muito mais intenso de trabalhar a questão dos significados. Como na nossa cultura enfatizamos as trocas verbais, é comum considerar-se que há algo de errado com a criança que fica quieta e parada, principalmente quando há uma atividade em vigência.

Jogos de fabricação: Em que a criança explora determinado aspecto nos objetos procurando entende-lo. Refaz inúmeras vezes um percurso de realização como montar e desmontar pilhas de objetos, articular-los entre si.

Do ponto de vista estrutural os jogos se caracterizam pela predominância da fantasia infantil, o que chamamos de imaginação da criança, ou pela predominância de regras. Os primeiros jogos da criança pertencem à primeira categoria, o que não quer dizer que elas não tenham regras. No segundo caso as regras implicam na relação com o outro portanto neste caso já há intenção de partilhar experiências e de participação em várias atividades.
Do ponto de vista cognitivo o jogo têm a função de permitir à criança que, partindo da identidade absoluta do significado com o objeto, que ocorre por volta dos 2 anos e meio chegue à compreensão de que o significado é independente do objeto ( 6 – 7 anos ). Como desenvolvimento infantiu criar uma noção de diferença entre trabalho e brincadeira, estando com mais regras.
O jogo também contribui para a alfabetização: pois é através da atividade lúdica que a criança percebe a fusão inicial entre objeto e significado, o que se traduz no processo de aprendizagem da leitura. ( Cavalo = Vassoura ) Neste âmbito também é importante ressaltarmos que a criança está em constante uso do desenho como artífice da representação ou imagem-significado.
Este é o caminho que a criança percrusta nas sendas da construção de seu conhecimento, pois passa a lhe dar com representações deste objeto real, subsituindo por outro aleatório, finalmente lida com o conceito na ausência do objeto. Dizemos então que partiu para o domínio das idéias.
Na pré-escola o professor deverá propor conteúdos compatíveis com tais processos de desenvolvimento. Surge neste momento a importância do grupo e este relacionamento somente é possível porque ela já trabalhou através do jogo de ficção a questão dos papéis. ( representação )
Três frases que vêm a conferir a fidedignidade de importante idéia acima conferida aqui serão proscritas:

Note-se que as brincadeiras infantis não são brincadeiras; devemos considerá-las os atos mais sérios da criança.
Montaigne

Quer se esforce quer se divirta, para ele tanto faz; suas brincadeiras são sua ocupação, ele não faz distinções.
Jean-Jacques Rousseau




“O maior erro que se comete no querer que a criança se esforce pelo sentido do dever, pelo simples respeito à disciplina abstrata, é esquecer que a criança não é um homem e que os valores reconhecidos pelos adultos correspondem nela à outros valores... Para as crianças, a brincadeira é o trabalho, o bem, o dever, o ideal de vida. Exigir da criança um esforço de trabalho fundamentado em algo diferente do ato de brincar equivale a agir como o insensato que, em plena primavera, põe-se a sacudir a macieira em busca de maçãs: em vez de recolhe-las, derruba as flores, privando-se dos frutos que o outono prometia.”
Edouard Claparède

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